sábado, 13 de março de 2021

Relatos de uma vida acadêmica desastrosa - Parte III

Anos de mudanças, desafios, aprendizados e intrigas 

Todo processo de mudança trás consigo desafios, as marcas ficam, mas sentir na pele pode proporcionar experiências que apenas a pressão é capaz de promover.



Como dito na parte II

Jornalismo como ele é, na prática, a vida atrás da câmera é assim!
Foto: Angela Lavagnolli
, 2016 começou com uma viagem ao interior, destino repetido em dezembro, desta vez não foi tão tranquila, chuva forte durante todo o trajeto, não apenas o clima estava pesado, mas meus pensamentos ainda estavam na faculdade, no dia dia 12, havia uma reunião marcada com o coordenador Marcello Rollemberg com o objetivo de saber qual seria o final derradeiro daquela epopeia. Retornei na manhã daquela segunda feira, ainda cansado da viagem chuvosa, naquela noite aconteceu a reunião. Ficou combinado que as provas seriam aplicadas na quarta-feira e na quinta-feira daquela mesma semana pelo coordenador, os demais professores se recusaram a aplicar a prova, direito deles? Sim, mas que teria a consequência de um semestre e, um ano letivo perdido para todos.

Ainda nas primeiras semanas daquele mês de dezembro, havíamos participado de uma outra reunião, desta vez com a coordenadora de jornalismo de outras instituição. O Campus era bem menor, por outro lado, havia uma estrutura muito mais moderna e completa para o curso, estúdio de rádio e TV, além das facilidades como ônibus fretado saindo de Osasco para o bairro da Lapa na capital paulista, apesar da proximidade entre as localidades, a faculdade ficava em um ponto não muito privilegiado para quem pretende chegar até lá de trem, além de distante da estação, um ponto industrial do bairro próximo da Marginal Tietê. Não nego que fiquei receoso, parecia tudo bom demais para ser real.

Assim como todo aquele ano de 2016, as coisas foram um tanto esquisitas. Em anos não comemorava meu aniversário com Lucas e outros amigos em comum, das novas amizades, Angela passara o final de ano em Pernambuco, no final era Debora, uma amiga e eu. Nos encontramos na estação de Osasco e fomos rumo a região da avenida Paulista. Era uma típica sexta-feira de verão, 30 de dezembro, dois dias após meu aniversário, passamos em um bar que já havia virado ponto de decisão, na esquina da Frei Caneca com Antônio Carlos. Antevéspera de reveillon, decidimos descer a Augusta e no meio de tanta indecisão, comemorei meu aniversário em uma balada open-bar.

Aquela virada de ano teve um gosto especial, não foram as horas mal dormidas de quem madrugou na base do gim com soda, ou a bebida se misturando com a ressaca da noite anterior. Era a esperança de um 2017 melhor, um recomeço, da forma que fosse, seria uma virada de página, para o bem ou para o mal.

A mudança de instituição: um recomeço turbulento

Toda mudança trás impactos, mudar de instituição não foi diferente. Uma semana antes do início das aulas, já com o histórico e conteúdo programático em mãos, uma reunião com a direção e realmente, cumpriram o prometido, teríamos o transporte e, a melhor parte a bolsa de estudos, no meu caso, pagando menos do que no semestre anterior e com desconto nos semestres em que haviam disciplinas já cursadas.

Enfim primeiro dia de aula, todos juntos procurando pela turma do terceiro semestre de jornalismo, sala Z11, aquele sistema de nomear corredores era complicado no início, mas logo se tornou algo lógico e mais simples do que aparentava. Chegando na sala, lembrei que em uma entrevista para estágio, havia conhecido uma estudante daquela faculdade, surpresa perguntou "o que vocês está fazendo aqui?" Expliquei por cima a história e e nos acomodamos na sala.

Em pouco tempo a realidade começou a mudar, o clima de competição tomou conta da turma, que pareciam turmas separadas. Em algumas matérias, como a disciplina de rádio, não tinha jeito, havia uma união mesmo que temporária, o que amenizava a semana em plena sexta-feira.

Com o passar do semestre, algumas semanas bastaram para que comparativos com a antiga instituição começassem a ser feitos, era outra realidade, outro método de ensino. Em pouco tempo, passei a demorar para voltar do intervalo, o niilismo coletivo dominou. Dias era a desculpa de que era difícil comer algo em 20 minutos, depois, a aula, o professor ou a turma eram falsas. Vezes alguns fumavam maconha, outras a distração era a cerveja comprada no Barba.

Diversas vezes percebia que atrapalhava a aula entrando atrasado, algumas companhias que percebi que não eram boas, propositalmente "causavam". Certo dia, Angela ficou nervosa e voltou para aula no horário, fui logo em seguida, àquele momento já estava entendendo que aquele comportamento e ações acabariam com um sonho, saí e fui falar com Debora, na hora, no embalo, foi a única vez que fiquei chateado com a atitude dela. Mas depois de uma conversa franca, nos acertamos e passamos a não perder tempo com as tentações do exterior da faculdade.

Chegada as primeiras provas, corri atrás do prejuízo, estudei o básico do InDesign, a prova de editoração era prática e em duas semanas tirando dúvidas, dominava minimamente o que seria cobrado na avaliação. Estreitei laços com os professores e aos poucos peguei o ritmo e o método empregados ali. Resultado das provas entregues, não demorou muito para a turma da fumaça, um a um, abandonando o curso. Voltei a ter a empolgação do início do curso.

Os semestres foram passando, trabalhos práticos incríveis realizados, uma ampla liberdade na escolha dos temas, equipamento disponível para realização de externas, um sonho, apesar de alguns colegas que foram para a mesma faculdade repetirem exaustivamente que não estavam aprendendo nada, eu conseguia acumular conhecimentos, sempre me aprofundando nas pautas propostas, era o fascínio de viver a profissão na academia.

O desafio de  dividir sala com uma turma de outro curso

A competitividade e as brigas se acirraram com o passar dos semestres, mas existia algo pior. Dividir uma disciplina com uma turma de outro curso pode ser uma oportunidade para expandir conhecimentos, estudantes de jornalismo tendem a ter facilidade em lidar com alunos de publicidade e propaganda e produção audiovisual, por exemplo. O maior problema é que você junta aspirantes ao jornalismo com discentes de relações públicas.

Na minha experiência, não tenho capacidade, nem mesmo a pretensão de generalizar, a turma da qual dividi diversas disciplinas era complicada, pessoas ávidas por conversar o tempo todo, quase sempre em volume que atrapalhava a aula, deboches, desprezo e senso de competição também eram frequentes. 

Mas por quê existe essa rixa entre as carreiras? A minha conclusão no caso em questão era o coordenador de RP, em uma aula de marketing, sem cerimônias, ele teve a coragem de dizer que não gostava de jornalista, mas por qual motivo? Bom, em algumas funções, o trabalho pode ser executado por profissionais de ambas as áreas, basicamente elas são: assessoria de imprensa e gestão de crise. A diferença acaba sendo a abordagem, um jornalista irá resolver uma crise pensando na percepção do público e na repercussão do caso, o relações públicas executará algo semelhante, mas o papel maior dele será voltado a defender a empresa, entidade ou figura pública.

Em uma ocasião, o professor que lecionou aulas de empreendedorismo, branding e assuntos relacionados, propôs uma ação no qual os grupos venderiam brigadeiros, pensando em posicionamento de mercado, público alvo, valores investidos e, claro o lucro. A maioria decidiu fazer os próprios brigadeiros, mas o vencedor, além de ter comprado os doces, subfaturou o valor investido, resultado: venceram a competição e, como combinado, o prêmio que era o lucro de todos os grupos somados. Uma verdadeira amostra de desonestidade e hipocrisia, afinal, a grande maioria dos integrantes vitoriosos viviam criticando a corrupção e os esquemas ilícitos que enriquecem políticos e empresários.

O momento de dar o troco não tardou, se não me falha a memória, as matérias administradas pelo professor Rafael Navarro, era Branding. Uma das aulas, uma nova gincana, dessa vez cada grupo teria 1 minuto para adivinhar o maior numero de marcas. Parte da turma de jornalismo acabou indo embora, alguns relações públicas não estavam presente, ficou decidido que seria curso contra curso. O esperado é que rp tenha maior familiaridade com marcas e seus logotipos, mas não foi o que aconteceu e, como se o destino colaborasse de alguma forma, a maior parte das marcas que vieram para o meu grupo eram de fabricantes de carros ou faziam parte do universo automotivo. Em resumo, tentaram atrapalhar, mas empacaram em uma marca que o logo era uma letra "i", enquanto se perguntavam o que era aquela letra, eu conhecia a marca, faço que vou responder e proferi as seguintes palavras: "é 'i' de Irineu, você não sabe nem eu!" Uma clara alusão ao meme que resultou em risadas até mesmo do professor.

No final das contas, não guardo mágoas dos mal professores, nem mesmo dos outros colegas de jornalismo ou não, dos quais tive alguma diferença ou discussão. Afinal, na faculdade acabamos lidando com diferentes tipos de pessoas, diferentes métodos de ensino e, essa é a parte do aprendizado que muitos valorizam apenas após muitos anos. Muitas vezes a idade e a maturidade, abrem nossos olhos no reconhecimento precoce desta parte da vida universitária.

Parte I

Parte II

Parte IV

Parte V

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