sábado, 19 de fevereiro de 2022

Osasco 60 anos: uma cidade em constante transformação

De distrito de São Paulo, ao segundo munícipio mais rico do estado, Osasco é uma cidade em constante transformação, antigo polo industrial que se transforma em centro comercial e de serviços, atrativa para empresas de tecnologia. Um município que precisa superar seus problemas e fazer as pazes com seu rico e esquecido passado. 



Osasco completa 60 anos de sua emancipação, porém, sua história vai além das seis décadas como munícipio, uma jovem cidade que se desenvolveu rapidamente. De um distrito de São Paulo considerado o "fim do mundo", Osasco logo assumiu sua vocação industrial, que hoje dá lugar ao comércio - segundo matéria vinculada na Folha de S. Paulo, no dia 3 de março de 2017, o calçadão fica atrás apenas da rua 25 de março em número de lojas, número que pode em breve ultrapassar o popular centro paulistano, com a ampliação do Shopping Galeria e construção de um shopping popular que está sendo construído no local do antigo Cine Glamour. Outra atividade crescente na cidade são as instalações de empresas de tecnologia, como as sedes do Mercado Livre, iFood, B2W Digital, além das empresas que estão migrando para o munícipio, graças ao incentivo fiscal, entre elas, Uber, 99 e Microsoft.

Atualmente a cidade ocupa boas posições nos indicativos econômicos, o segundo maior PIB do estado de São Paulo, ficando apenas atrás da capital e, oitava colocação a nível nacional, sendo a única não capital entre as 10 cidades com maior Produto Interno Bruto do país. A localização de Osasco é privilegiada, praticamente a esquina de São Paulo, cortada pelas rodovias Castelo Branco, Raposo Tavares, Anhanguera e Rodoanel Mário Covas, tornando-se também uma potência no setor logístico, como por exemplo, Grupo Pão de Açúcar, AmBev, Camil, além de dezenas de condomínios de galpões e transportadoras próximo ao seu complexo sistema rodoviário. 

O mercado imobiliário também é aquecido, boa parte graças ao custo menor do que o de São Paulo, cidade da qual faz fronteira ao norte, leste e sul. Não apenas o preço trona-se atrativo, o munícipio é atendido por grandes redes varejistas e atacadistas, contando inclusive com duas unidades do Atacadão, são 3 shoppings centers e há mais um em projeto. Complementares ao comércio do centro da cidade, diversos bairros contam com uma boa estrutura de lojas e serviços, o se torna conveniente em compras cotidianas. 

Grande cidade, grandes problemas

A maioria das cidades desenvolvidas, sofre com a ocupação desordenada do solo, em Osasco, o problema começa antes mesmo de sua emancipação. A cidade que leva o nome da cidade natal de Antonio Giuseppe Agú, imigrante italiano que no final do século XIX, comprou uma fazenda que deu origem ao distrito, posteriormente munícipio de São Paulo. Agú antecipava o espírito empreendedor da futura cidade. A primeira indústria fora uma olaria que fabricava telhas e tijolos de barro, posteriormente expandiu a produção para dutos cerâmicos (manilhas).

Contudo, era necessário escoar a produção, assim surgia em 20 de agosto de 1895, no quilometro 16 da Estrada de Ferro Sorocabana, uma pequena estação de trem, com uma pequena vila de casa para os funcionários da estrada de ferro. A Sorocabana sugeriu a Antonio Agú que batizasse a parada com seu nome, mas o italiano preferiu o nome de sua cidade natal, Osasco, uma pequena cidade na região de Piemonte no norte da Itália.

A estação funciona ainda hoje, após uma grande reconstrução no ano de 1976, e uma modernização recente - não concluída na última década. Apesar da localização estratégica, hoje é fonte de transtornos, graças a ocupação das áreas de várzeas do rio Tietê e do córrego Bussocaba, somadas a impermeabilização do solo por ruas e avenidas, além da canalização de pequenos riachos que percorriam a região central da cidade.

As inundações não geram prejuízos apenas para os comerciantes do centro de Osasco, atinge regiões do centro expandido, trazendo transtornos e perdas para motoristas e lojistas e, a periferia, uma vez que Osasco é cortada pelo Tietê e conta com afluentes poluídos, com leito assoreado e repleto de lixo e entulho descartado de forma irregular por moradores que vivem às margens desses cursos d'água. Outro problema relacionado a moradias precárias atingem diversos pontos do município, com casas em morros e encostas, sobretudo no extremo da zona norte, o lado mais pobre e subdesenvolvido da localidade.

Outra grande mazela da cidade é o sistema viário e o transporte público, muitos bairros contam com vias subdimensionadas para a realidade atual, gerando congestionamentos que impactam inclusive o sistema de transporte, rede que não sofre grandes transformações significativas há mais de 30 anos. Conforme a cidade cresceu para os extremos, as linhas de ônibus foram estendidas e poucas novas foram criadas. Os trajetos se sobrepõem por ruas e avenidas que levam ao centro e a região da Vila Yara, todo osasquense sabe que a cada 10 ônibus, pelo menos 8 têm o referido destino.

Faltam árvores em Osasco, a população costuma cobrar dos governantes nas redes sociais, mas são poucos os que tomam atitude e por conta própria plantam uma árvore na calçada de sua casa. Em algumas ruas as sombras são disputadas e quase sempre não são desfrutadas pelos proprietários do imóvel, afinal, uma arvore gera sujeira com suas folhas, mas o lixo que muitos despejam nas ruas e que agravam o problema das enchentes, parece não incomodar como o ciclo natural das árvores nativas.

A violência também entra nas pautas de discussão sobre a cidade, embora a fama adquirida nas décadas de 1980, 1990 e 2000, os índices de violência atuais estão dentro da média da Região Metropolitana de São Paulo. em 2002, o número de homicídios dolosos por 100 mil habitantes era de 54,82. Já em 2017, o índice foi de 9.91 assassinatos, levando em conta o mesmo número de moradores. Hoje a criminalidade foca em roubos, furtos, arrastões e recentemente, sequestros relâmpagos, afim de fazer transferência via Pix, mas nem de longe lembra o passado sangrento. Apesar da situação atual ser revoltante, em tempos de mídias digitais, tomamos conhecimento de mais crimes, o que nos passa a sensação de insegurança, ignorada no passado.

Passado esquecido

Em muitas cidades Brasil afora a população se orgulha da história daquela região, por mais que no presente sejam localidades estagnadas ou que decaíram com o passar dos anos. Osasco no entanto, tem muita história para contar, mas sofre com a apatia da grande parte de seus moradores que não conhecem a sua história. O museu da cidade, abandonado, reflete o esquecimento generalizado.

Voltando a época da exploração dos Bandeirantes, onde hoje está localizado o 4º Batalhão de Infantaria Leve do Exército Brasileiro, foi local de moradia do português Antônio Raposo Tavares, local que abandonou para desbravar os sertões do Brasil, afim de conquistar territórios para a coroa portuguesa. Existem histórias não comprovadas de que o Bandeirante esteja enterrado no destacamento que leva seu nome. O quartel de Quitaúna como é conhecido na cidade, também teve a passagem de outra figura polêmica na história recente do Brasil, Carlos Lacerda, integrante da Vanguarda Popular, responsável pelo sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, em dezembro de 1970. Grupo responsabilizado também pelo assassinato do soldado Mario Kozel Filho em 1968, no atual Comando Militar do Sudeste, localizado no Ibirapuera, em uma avenida que leva o nome de Kozel Filho.

O abandonado museu de Osasco, localizado na avenida dos Autonomistas, que leva o nome do movimento emancipatório, antiga estrada de Itu, é conhecido como Chalé Bricola, residência do barão Dimitri Sensaud de Lavaud, engenheiro, aviador e inventor. Lavaud era Espanhol de descendência francesa, naturalizado brasileiro, foi responsável por inventos como a hélice de passo-variável, além de ser um pioneiro na fabricação de um carro com câmbio automático. Mas o fato que liga o inventor à cidade de Osasco, foi o primeiro voo da América Latina, realizado em 1910, a bordo do aeroplano São Paulo, a aeronave percorreu 105 metros, a uma atitude entre 3 e 4 metros, no locar em que hoje fica a avenida João Batista, em frente ao esquecido museu.

A arquitetura também revela o descaso com o passado, a demolição do prédio da Hervy, herdeira direta da Cerâmica Osasco de Antonio Agú, hoje local do esqueleto que seria o novo paço municipal, que deve ser ocupado por empresas de tecnologia, uma imponente construção de tijolos que foi ao chão em nome do progresso que nunca veio. O prédio que abrigou o Cine Glamour, com uma arquitetura icônica que deu lugar a construção de um shopping popular nos moldes da Galeria Pajé, na rua 25 de março.

Outro cinema também foi alvo da desfiguração, respeitando a religião, o Cine Estoril no entroncamento da Salem Bechara, Autonomistas e Primitiva Bianco, hoje abriga um templo da igreja Mundial do Poder de Deus, teve suas características marcantes modificadas, praticamente uma mutilação da história. No encontro das mesmas 3 ruas, conta-se que havia um relógio, que ninguém sabe qual foi o paradeiro.

Algumas residências resistem à especulação imobiliária, que substituí residência com arquitetura antiga, por grandes caixotes de concreto em sua grande maioria, projetos pobres para uma cidade do porte de Osasco, há também o esquecimento de imóveis nos bairros de Presidente Altino e no degradado vizinho Bonfim. Arquitetura antiga desfigurada ou apenas as ruínas do que um dia abrigou famílias operárias.

Se por um lado a história é esquecida, não podemos ignorar o início empreendedor que acompanha esse município que chega a ser carismático apesar de seus problemas, sede de banco, industrias, comércio, serviço e tecnologia, uma cidade que cresceu e se transforma rapidamente. 

O osasquense não vai ao centro, vai para Osasco, não vai para São Paulo, vai para cidade, costumes da época em que  era penas um distrito e que rompe a barreira de gerações, a capital brasileira do cachorro-quente, que não pede a iguaria pelo nome, nem como hot-dog, mas de dogão. Que conhece o Osasco Plaza Shopping como Sai de Baixo, após a trágica explosão ocorrida em 1996. A cidade que acolhe o rico e o pobre, construída por migrantes e imigrantes, o que falta em Osasco? O orgulho de viver nesta jovem cidade de 60 anos.


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